O mercado, os novos governos e a questão racial

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Desde o início da transição do novo governo, tem havido muita discussão, escrita e especulação sobre como será a relação entre o novo governo e o mercado nos próximos anos. Isso ocorre porque o país passou por uma mudança ideológica de 180 graus em sua política, o que terá um impacto significativo na economia e, consequentemente, nas áreas social e racial, que estão interligadas em nosso país.
No entanto, o que é exatamente esse “mercado”? Nada mais é do que o conjunto de setores econômicos, como bancos, empresas, agronegócios e, é claro, os especuladores e investidores. Não se pode ignorar a pressão constante exercida por esse mercado, cuja maior manifestação ocorre por meio da alta ou queda das bolsas de valores e do dólar.
Nesse contexto, a questão racial também tem ganhado destaque nos últimos anos, abordada por esses mesmos atores sob a ótica social, da diversidade e da sustentabilidade, representada pelo acrônimo ESG.

E qual é a relação disso com os novos governos que assumirão a partir de 2023? É tudo interligado! Isso ocorre porque, se os governos estão cada vez mais sujeitos à pressão e alinhados com as demandas do mercado em relação à diversidade e inclusão, o mercado tem liderado os avanços nesse tema nas discussões empresariais nos últimos anos.
Há uma pressão crescente da sociedade civil, alinhada a esse tal “mercado”, bem como das grandes corporações e das instituições que as regulam. Essa pressão é direcionada para uma maior representação de grupos discriminados, como negros, mulheres, pessoas com deficiência (PCDs), LGBTQ+ e outros, em cargos de liderança nas empresas. Isso representa uma mudança sem precedentes na história da economia.

Exemplos claros desse movimento têm sido observados em bolsas de valores como Nasdaq e B3, que passaram a exigir que as empresas listadas em seus mercados priorizem a diversidade em seus conselhos e cargos de liderança. Isso vai além das diretrizes de alguns órgãos governamentais e programas governamentais; hoje, essa pauta faz parte das discussões do mercado e não pode ser negligenciada pelos novos líderes, sob o risco de perderem credibilidade.

O governo federal, não apenas por meio de discursos, mas também por meio de medidas como a nomeação de mulheres, negros e até indígenas em sua administração, demonstra sensibilidade e alinhamento com essa tendência. Infelizmente, essa postura não é vista em outras esferas governamentais, como nos governos estaduais. Por exemplo, em São Paulo, estado com a maior proporção de pessoas negras no país (mais de quatro milhões de autodeclarados negros), a representação negra nos níveis mais altos do governo é praticamente inexistente. Essa lacuna também é observada na maioria dos estados do país, contrastando inclusive com a postura gradualmente adotada pelo mercado e pelo mundo corporativo.

Ainda é cedo para determinar como será efetivamente a configuração e a representatividade do poder nos próximos quatro anos no Brasil. No entanto, ao analisarmos os rostos dos governantes, seus aliados e assessores mais próximos, como secretários, fica evidente que ainda há um longo caminho a percorrer até que a verdadeira diversidade racial do Brasil seja plenamente refletida em todos os âmbitos do país, principalmente nos círculos de poder.

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